Nas Curvas de Adriano
todo mundo vai passar...
Marília Beatriz*
Olhar é necessidade,
Sentir é fundamento,
Para provocar múltiplas conspirações.
Tudo em Adriano é pergunta e resposta
Ou pelo menos é o intento evocador.
Suas telas são retalhos, recortes do mundo que ele abarca. E
é nesse gesto de provocação que existe a possibilidade dos desdobramentos, das
fraturas, para que o pintor oficie um ritual multicolorido em que os
espectadores tomam com ansiedade seus lugares para receber a gratitude lançada
por seus pinceis, por seus artefatos. Quase uma espécie de degustação. Aqui a
arte que é instaurada pela fatura, pelo exercício, pelas instalações de belezas
evocam a condição da memória. A memória de Adriano recheada por sua infância,
por sua estória de vida, pela certeza em saber o que quer , vai dimensionando a
oferta, o presente de magias e as entregas são feitas nas mesas que se colocam
para o alcance material de nossas mãos.
De todos os modos e em todos os lados acontece o jeito
criativo apontando a dimensão das belezas. Adriano alcança e abraça os
múltiplos conceitos pictóricos para lançar ao largo uma multidão de traços
insinuantemente coloridos. A profusão dos azuis, os jogos de luzes e as
inumeráveis cores desnudam o mundo encantado na visualidade do artista.
Por que todo mundo vai passar pelas curvas de Adriano?
Primeiro porque a sua proposta é experimentação. Segundo trata-se de
objetos/nullits que pressupõem um desejo e por fim há provocações que não podem
passar em branco.
Pois diante da oferenda é importante deixar de lado o ar
professoral e embarcar no aprendizado que salta das telas, dos circundantes
performáticos e assim ganhar experiência para mais tarde mostrar o que foi
aprendido e apreendido. O que Adriano projeta é o padrão, o exemplo, a matriz
que importa percorrer.
Não adianta fugir, não adianta calar, é impossível ser e
estar imparcial diante do que o Artista oferece nesta mostra. Ninguém estará
livre da sedução, da aproximação. E nesses momentos surgem as melhores tarefas
para edificação do olhar.
A mirada prepara o trajeto, lança os passos rumo àquelas
figuras apoiadas em luzes ou esboça as emoções que ficaram guardadas no passeio
do olhar. Acontece que a cada mirada ,
mais desvela a descoberta que é ampla e o sentimento pincela a estória
que brota em cada tela. São coloridos para roupas, estão pacus à espreita do
gosto. Há círculos voadores. Tudo fundamentado no sentir que vai provocar
conspirações inusitadas.
Inusitadas conspirações que chamam para o aproveitamento de
toda oportunidade de realizar uma obra aventureira. A aventura dimensiona um
espaço/tempo muito apropriado para os tesouros traçados, há em cada quadratura
uma força inebriante. As conspirações criam um halo cerimonial. Tudo o que está
sendo mostrado, captado e escriturado é fruto da magia.
Adriano Ferreira tem em suas mãos o poder de alçar para
sempre a circularidade benfazeja das coisas ocultas com Arte!
Temos um artista/mago e um mágico/aventureiro. Aleluia! Tem
música no ar transpirando das telas. Cuidado Adriano!
Início de noite cuiabana em janeiro de 2016
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Mestre
em Comunicação e Semiótica , ocupante da cadeira nº 2 da Academia Mato
Grossense de Letras e professora aposentada da UFMT.